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Lance Notícias | 18/11/2021 15:58

18/11/2021 15:58

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Além das lentes: searaense ensina a arte da fotografia e cinema em favelas e comunidades indígenas por todo país

Natural de Seara, essa é a história da cinegrafista, educadora social, fotógrafa e viajante Ângela Reck, de 28 anos. Residindo em Florianópolis, desde 2015, com um intervalo de quase três anos no meio, pois a jovem estava viajando pelo Brasil como mochileira. Segundo a jovem, a fotografia veio ao seu encontro e fez lar. As […]

Além das lentes: searaense ensina a arte da fotografia e cinema em favelas e comunidades indígenas por todo país

Natural de Seara, essa é a história da cinegrafista, educadora social, fotógrafa e viajante Ângela Reck, de 28 anos. Residindo em Florianópolis, desde 2015, com um intervalo de quase três anos no meio, pois a jovem estava viajando pelo Brasil como mochileira.

Segundo a jovem, a fotografia veio ao seu encontro e fez lar. As primeiras fotos foram das amigas, mas nunca pensado em seguir como profissão.

– Na época, eu trabalhava em uma contabilidade em Seara, até que a Carla Guerini me apresentou uma graduação universitária de audiovisual em Chapecó. Essa graduação tinha uma matéria de fotografia, mas me encantei pela possibilidade de roteiro, e foi ali que começou a minha desconstrução – explica.

Ângela destaca que mesmo estudando e trabalhando na área de fotografia, demorou anos para se considerar fotógrafa.

– Atuei em vários gêneros, até ir afunilando e me encontrar na documental. Atuar em diferentes campos foi importante porque me fez ter novas perspectivas, mas principalmente entender o que eu queria seguir como foco central – diz.

Segundo a fotógrafa, não basta amar a fotografia, você precisa amar a área que atua e entender que precisa se reinventar todos os dias.

– Na questão, sou idealizadora, realizadora, empreendedora, mantenedora para realizar um dos meus sonhos, ele tem nome e resultados: o Projeto Além das Lentes – diz.

Projeto

Além das Lentes é um projeto cultural que Ângela ensina a arte da fotografia e cinema em favelas, comunidades indígenas e centros socioeducativos para menores infratores.

– Em 2019, resolvi viajar com o projeto pelo Brasil e durante dois anos e meio, as mochilas foram as minhas casas. Nessa aventura de ser mochileira, passei por diversos estados brasileiros e atingi diretamente 818 alunos com as atividades itinerantes do projeto, tudo isso basicamente sem recursos financeiros, vivendo com a média de R$ 400,00 por mês – ressalta.

Durante a viagem, a jovem decidiu criar uma metodologia de ensino a partir de um diário pessoal e o transformou no chamado Caderno Criativo.

– Este caderno é um estímulo para os alunos criarem um álbum de fotografia caseiro, com escrita e desenho também. Os alunos precisam desenvolver os porquês e entender sua história, para então registrá-la – fala.

                                                            Foto/Divulgação: Projeto Além das lentes – Ângela Rech

O Além das Lentes, segundo a jovem, nunca foi somente sobre fotografia e cinema, sempre foi sobre pessoas, histórias, transformações, possibilidades e empatia.

– Câmeras como ferramenta de protagonismo sociocultural e de questionamentos: O que você faz, é por você ou por todos? – questiona.

Ângela ainda explica que na fotografia ou no cinema, somos conduzidos a abrir os olhos para a vida ou simplesmente fechar e descansar dela.

– A fotografia documental é um dos gêneros que trabalha de forma mais realista com as pessoas e lugares, é uma imersão nas histórias das pessoas, deixando um pedacinho de ti ali também, nos registros. O resultado são fotografias reais de pessoas reais. Não é um campo muito apresentado, já que vivemos em tempos de uma vida perfeita de Instagram – conta.

Um fato que marcou a trajetória profissional da fotografa foi quando uma amiga de São Paulo a enviou uma foto de um projeto questionando se era de sua autoria.

– Foi ali que eu percebi que eu tinha a minha identidade. Já ouvi que as minhas fotografias seguem a linha do barroco e várias outras ideias, mas é assim mesmo, quando você lança sua arte para fora, ela já não é somente mais sua, cada um terá sua perspectiva e olhar diferente dela – relata.

Inspirações

Com muito talento e conhecimento objetivo, por meio de suas grandes viagens, estudos e vivencias, Ângela destaca suas grandes inspirações.

– Juliana Pacheco tem uma sensibilidade ímpar, apenas vendo o trabalho para entender a dimensão. Nay Jinknss é do Pará, ficou conhecida na fotografia documental pela intensidade dos registros, inicialmente, feitos com celular e o fotógrafo Rafael Benevides, que atua na área de casamentos e mesmo não sendo meu foco, ele acabou me ensinando como contar a minha história, através dos meus registros – fala.

Novo conceito para o termo “casa”

Com bastante tempo tendo apenas sua mochila como casa, a fotografa pôde vivenciar diversas realidades diferentes das que já conhecia, pode, de fato, sentir da pele novas experiências, às vezes, não tão positivas assim.

Os chamados retratos invisíveis., Angela se perguntou bastante sobre isso quando decidiu parar de viajar, em tempo integral, e ter uma casa tradicional novamente

– Cada estado que fiquei parecia um novo país, isso porque já fiquei em uma comunidade indígena, sem energia elétrica, tomando banho no rio e sem comunicação. Já dormi em um abrigo de refugiados venezuelanos que estão no Brasil. Já fiquei morando em uma favela com entrada direto para o mar – frisa.

Segundo ela, não é preciso ir para tão longe para ver o quão a invisibilidade é gritante nas classes.

– Já acompanhei projetos que fazem revestimento de casas com caixa de leite para que as famílias não sintam frio. Já escutei histórias de mulheres que precisam colocar camisetas no lugar de fraldas e/ou absorventes, por não ter dinheiro para comprar. Já vi pessoas fazendo suas necessidades em sacolas plásticas por não ter um vaso sanitário. Tem muita gente sendo esquecida em prol do dinheiro e do poder – destaca.

                                                                                                                                                   Fonte: Arquivo pessoal

Por onde começar? 

– Ouvi uma frase do fotógrafo Arthur Damasceno que faz todo sentido: há rascunho por trás de grandes obras, então vai testando. O bom resultado vem das suas referências, olhe com carinho para sua família, ali reflete muito em como você é hoje, conheça e conte a sua história para saber como contar a do outro. Não tem equipamento profissional? Não tem problema, vai testando com seu celular, vai brincando com a luz, ela é mais importante do que o melhor equipamento – ressalta.

A cinegrafista e fotografa comenta que muitos profissionais vendem a fotografia como um mundo de fantasia, em que tudo é perfeito, mas esquecem que a perfeição talvez nem existe.

– A fotografia lida com sonhos sim, mas trabalhar com fotografia requer pés no chão com a cabeça na lua. Ser fotógrafo é ser resiliente, já ouvi. A melhor dica, que posso deixar com o que eu aprendi, é que você só vai poder fazer pelos outros quando souber o que é bom pra você, respeite seus limites, escute, estude, viva o coletivo e viva intensamente – conclui.

                                                                                                                           Fonte: Arquivo pessoal

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