Saúde

Lance Notícias | 02/09/2021 10:48

02/09/2021 10:48

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Setembro Amarelo: uma campanha de prevenção ao suicídio

O Setembro Amarelo reforça a campanha de conscientização de prevenção do suicídio. No Brasil a campanha iniciou em 2014, uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria juntamente com o Conselho Federal de Medicina. O dia dez de setembro é considerado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio. O Lance Seara entrou em contato com a […]

Setembro Amarelo: uma campanha de prevenção ao suicídio

O Setembro Amarelo reforça a campanha de conscientização de prevenção do suicídio.

No Brasil a campanha iniciou em 2014, uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria juntamente com o Conselho Federal de Medicina. O dia dez de setembro é considerado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio.

O Lance Seara entrou em contato com a psicóloga Aline Bedin (CRP 12/10514), formada há mais de dez anos em psicologia que comentou a respeito da campanha.

O que é setembro amarelo?

Segunda a psicóloga, o setembro amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio que busca conscientizar as pessoas sobre o tema além de como se evitar.

Essa campanha começou nos EUA após o jovem de 17 anos, Mike Emme, cometer suicídio em 1994 e no seu velório havia uma cesta com cartões, decorados com uma fita amarela, com a seguinte frase: “se você precisar, peça ajuda”. Esses cartões realmente chegaram às mãos de pessoas que precisavam de ajuda. Marcando o início do movimento de prevenção ao suicídio, destaca a Psicóloga.

Por que amarelo?

A cor amarela foi escolhida porque Mike havia restaurado um Mustang 68 e pintado ele de amarelo, em virtude desta história, o símbolo é o laço amarelo. No Brasil essa campanha iniciou em 2014, sendo uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria juntamente com o Conselho Federal de Medicina. O dia 10 de setembro é considerado o dia mundial da prevenção ao suicídio.

Como prevenir?

Aline destaca que a melhor forma de prevenção ao suicídio é a informação.

– Quanto mais a população souber sobre o assunto, mais vai conseguir identificar os sinais e evitar a morte de alguém próximo. Estamos passando por uma pandemia, por um vírus que é altamente transmissível, as ações de prevenção, como a utilização de máscara e álcool em gel, por exemplo, só foram possíveis a partir da disseminação de informações sobre o assunto e com a prevenção dou suicídio é a mesma coisa, você só vai saber reconhecer que alguém está dando sinais de que pensa em se matar, se você conhecer esses sinais – explica.

 

SINAIS

A maior parte das pessoas que cometem suicídio dão algum tipo de sinal antes de realmente fazer. Depois que um familiar se mata, a família começa a perceber que algumas atitudes daquele familiar foram em virtude de estar planejando se matar. Sim, depois é mais fácil de identificar e esse é mais um dos motivos pelos quais se deve falar sobre suicídio, porque se você souber quais são esses sinais você pode identificar e impedir a morte de seu familiar.

A primeira coisa a ter em mente é descartar a ideia de seu familiar não cometeria tamanha violência contra si. Não tem como saber, então é importante levar a sério os sinais e conversar com seu familiar sobre o assunto.

– É preciso prestar atenção nas falas do seu familiar, quando ele diz coisas como “eu não aguento mais viver assim”, “eu preferia estar morto”, “se Deus me levasse seria bom”, “se ao menos me acontecesse alguma coisa e eu morresse”. São todas falas que representam um sinal de alerta e não devem ser ignoradas. Nesse mesmo sentido, quando ele demonstrar falta de esperança no futuro, por exemplo, achar que a situação não vai mudar, estiver sendo muito pessimista, pensando sempre que o pior vai acontecer ou se ele estiver falando abertamente sobre a intenção de se matar, algo precisa ser feito logo – detalha a psicóloga.

Alguns sinais mais sutis também podem aparecer, mas normalmente ninguém se dá conta que são um aviso. Por exemplo, a pessoa fazer um testamento, ou distribuir a herança entre os filhos, deixar a família informada sobre todas as contas em aberto, valores que tem no banco, parece que quer deixar tudo arrumado, tudo em ordem.

Além disso falas e atitudes com tom de despedida também são sinais a serem observados, por exemplo, liga para os irmãos, para os pais, para os filhos, coisa que antes não costumava fazer e as conversas parecem realmente uma despedida.

No caso de a pessoa estar depressiva, ela pode apresentar uma discreta melhora no ânimo alguns dias antes de cometer suicídio, a explicação para isso é que a pessoa está experimentando um sofrimento muito grande, e quando ela decide se matar, esse sofrimento diminui, justamente porque ela vê o fim do seu sofrimento. Ou seja, a pessoa pensa em se matar, planeja como fazer, mas precisa um tempo para organizar tudo, nesse tempo é que ela apresenta uma pequena melhora e depois surpreende a todos com o suicídio.

Além dos sinais, precisamos prestar atenção nos mitos que ainda acreditamos sobre o suicídio.

Mitos

Este assunto ainda é tratado como tabu e existem muitos mitos que envolvem este tema, um deles é o pensamento de que se “eu perguntar a alguém sobre suicídio, estarei induzindo-o a fazer”.

Este é um medo muito grande das pessoas, mas a verdade é que você perguntar isso a alguém não vai dar essa ideia a ela, muito pelo contrário, essa pode ser a chance de sentir-se acolhida, de perceber que tem alguém que se importa com ela e que ainda há uma saída, caso ela esteja mesmo pensando. Quando você pergunta isso a alguém, você pode estar dando a chance dessa pessoa pedir ajuda.

Outro medo relacionado a isso, é você perguntar e ela dizer que sim, como você vai reagir? A minha dica nesse momento é que você escute o que ela tem a te dizer, com interesse genuíno, sem julgamento e se coloque à disposição para buscar ajuda especializada junto com ela. Muitas vezes, só proporcionar essa escuta é a diferença entre a vida e a morte.

Outro mito que considero bem presente, é quando a pessoa faz ameaças de se matar e as pessoas próximas ignoram esses avisos por pensar que quem quer se matar não avisa, ou que está fazendo isso somente para manipular.

Pesquisas indicam que até 90% das pessoas que cometeram suicídio haviam buscado algum tipo de ajuda nos meses anteriores, além disso, se a pessoa está ameaçando tirar a própria vida, no mínimo é um grito por socorro.

Essa ameaça, pode ser alguma tentativa de manipulação, mas mesmo sendo isso, ela pode cometer suicídio justamente para mostrar que não estava brincando. E, no fim das contas, não temos como saber se a ameaça é real ou não, então, vale a pena sempre investigar e buscar ajuda profissional.

O pensamento de que alguém próximo a mim não seria capaz de cometer suicídio é um mito. Muitas vezes acaba por menosprezar os sinais que a pessoa dá antes de se matar, porque justamente por ter essa certeza, imediatamente você afasta de seu pensamento qualquer desconfiança que você tem nesse sentido.

 

O que leva uma pessoa a tirar sua própria vida?

Quando você recebe a notícia de que alguém tirou sua própria vida, a primeira pergunta que vem à cabeça é “por quê?”

– O suicídio nunca tem uma causa única, nunca é só por um motivo. Ouvimos muito dizer que “o Fulano se matou porque brigou com a namorada” ou “se matou porque tinha muitas dívidas”, não que isso não seja um fator motivador, mas é apenas a gota d’água, por trás disso há uma história longa de luta e sofrimento, que muitas vezes a pessoa enfrentava sozinha há muito tempo – acrescenta Aline.

Além do mais, pesquisas apontam que mais de 90% dos casos de suicídio estão associados à algum transtorno mental, em primeiro lugar neste ranking está a depressão, em seguida o transtorno bipolar e o abuso de substâncias.

Precisa-se lembrar que uma pessoa que tenta ou comete suicídio está passando por um momento de sofrimento muito grande, além de ter um sentimento de desesperança muito presente.

– A pessoa passa a não enxergar nada de bom no futuro dela, perde as esperanças de que um dia a situação melhore e chega em um ponto que o sofrimento está tão grande que não consegue mais suportar, nesse momento, a morte se apresenta como uma opção, como uma saída para acabar com a dor que está sentindo. Não é incomum nos relatos de sobreviventes, que no momento em que tentaram o suicídio só queriam parar de sentir toda aquela dor. O suicídio não tem uma causa única, mas podemos afirmar que o sofrimento e a desesperança estão presentes na maioria dos casos – enfatiza.

 

Qual a importância do psicólogo neste momento?

A importância do psicólogo nesses casos é promover uma ressignificação acerca da ideação ou tentativa de suicídio e ressignificar o entendimento da família acerca deste fenômeno. Então, o psicólogo pode atuar em duas frentes, uma delas com o paciente que tentou suicídio, ou que tem ideações suicidas e a outra com o luto da família que perdeu alguém por meio do suicídio.

Com paciente que teve uma tentativa prévia, ou que tem ideação suicida, precisa-se fazer o resgate do sentido da vida para essa pessoa, buscar mudar a forma dela enxergar o mundo, sempre avaliando a necessidade de acompanhamento com psiquiatra, caso precise de medicação.

Com os familiares, elabora-se o luto por sua perda, trabalhando questões como a aceitação do que aconteceu, através de informações sobre o suicídio buscando desmistificar alguns conceitos acerca do suicídio que a família possa ter, bem como, trabalhar a eventual culpa por não ter percebido que seu familiar estava planejando o suicídio.

 

Ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimentos gratuitos a qualquer pessoa. O centro garante sigilo total e atende por telefone, e-mail e chat 24 horas por dia, nos sete dias da semana, pelo telefone 188.

 

 

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